quarta-feira, 24 de novembro de 2010

INTOLERÂNCIA, NOVA ETNIA E ALTERIDADE

Mais uma vez pasmo assisti, como todos, às cenas de violência perpetradas por jovens de classe média contra homossexuais na Av. Paulista semana passada. “Fato corriqueiro, mas não me acostumo nem gosto do cheiro” (Itamar Assumpção). Cenas semelhantes fazem parte do cotidiano de violência e, infelizmente, não apenas do Brasil. Para citar algumas, gotas d’água num oceano de intolerância: o índio Galdino em Brasília, queimado vivo enquanto dormia por jovens de classe média. Justificativa do grupo agressor: “pensávamos que fosse apenas um mendigo”. Agressão sofrida por uma empregada doméstica no Rio de Janeiro enquanto aguardava o ônibus após um dia cansativo de trabalho. Justificativa dos agressores, também jovens de classe média: “pensávamos que fosse apenas uma prostituta”. Exemplos não faltam e explicações também. O difícil é entender.
Darcy Ribeiro afirmava que o Brasil, dado seu processo histórico, é uma etnia nova, uma cultura nova, na qual velhos preconceitos simplesmente não possuem lugar, um povo novo. No entanto, afirmava o antropólogo, também é um povo velho, pois em sua formação, importou a estrutura burocrática, corrupta e excludente de um Estado antigo. Podemos acrescentar a essa lista, também a intolerância. A Europa possui uma longa História de intolerância em relação ao outro. Os gregos antigos chamavam de bárbaro todos aqueles que não falavam grego. Os Romanos usavam o mesmo termo para todos que não falavam latim. Recentemente, a velha chaga da xenofobia mostrou de novo seus dentes com a expulsão dos ciganos de território francês, parte de um longo e antigo plano de Nicolas Sarkozy de limpeza de ilegais da França. É bom lembrar que muitos desses indesejados estão nesse país há três gerações. Tais cenas ainda rondam a memória européia, cuja prática desembocou nos conflitos mundiais e nas câmaras de gás, sempre ocupadas por indesejados. Os judeus são sempre os primeiros lembrados, mas a lista é longa: comunistas, opositores ao regime, ciganos, homossexuais, doentes mentais, velhos, crianças racialmente impuras...
A alteridade é um dos pilares conceituais da Antropologia que vê no outro nem um ser superior ou inferior, apenas diferente do “eu” que observa. Aceitar as diferenças é o primeiro passo para um convívio de paz, para a construção de um mundo mais justo e igualitário, capaz de inverter o processo de destruição da vida como conhecemos nesse planeta, cujo principal fenômeno observável é o aquecimento global. Se o Homem não consegue nem conviver em harmonia com o outro, como poderemos mudar nosso modo de vida para inverter o processo suicida que a vida moderna nos legou?
O Brasil é um país em que a cultura por razões históricas está em construção. Não vamos importar preconceitos alheios a nós e vamos combater os que temos e que são muitos, sabendo que a forma é a educação, cuja linguagem principal não é a razão, mas o amor.

10 comentários:

  1. gostei da ultima frase, professor!!
    ela resume tudo que eu queria falar, numa intenção de deixá-la subentendida.
    Amor Ágape é o maior desafio do "homem moderno". Só é homem e só é forte quem supera esse desafio!

    ResponderExcluir
  2. Infelizmente vivemos num país que desde sua colonização tem o preconceito como base da sociedade. Após a proclamação da republica, e antes, na abolição da escravidão, os negros eram rejeitados como cidadãos. Não estavam incluidos, pelos portugueses, no processo de formação de nação brasileira. Sendo assim tiveram que viver à margem da sociedade.
    Este processo discriminatorio nao acabou, haja visto as recentes polemicas acusaçoes abordando os nordestinos, que há tempos sao execrados, assim como homosexuais(com a recente agressão na Av.Paulista, e com a nota contra a Lei de Homofobia, sem noção, emitida pelo reitor do Mackenzie,influenciado,claro pelos dogmas da Igreja que controla a instituição),evangelicos,budistas,umbandas, enfim, qualquer orientação que nao seja "normal" ou condizente com a maioria. Essa discussao ainda nos leva as ultimas eleiçoes. Ora, nao nos dizemos como uma democracia, um Estado laico ?! Entao como certa orientação religiosa vem a tona na pauta eleitoral como ganha votos!? Nao podemos ter a religiao vinculada com a politica, assim como temos o direito, em tese, a ir e vir, nos expressar-mos da maneira que achar correta.Ser heterosexual, homosexual, tanto faz. Nao muda a qualidade de pessoas. As individualidades das pessoas sao representadas pelas diferenças, sendo assim temos que aceitar as pessoas como são e ponto,independente de cor,nivel social e raça. Isso esta na constituição, pelo que me lembre...
    Apesar de tudo, nao somos o unico pais privilegiado com essa xenofobia/preconceito que tanto nos assola. Paises de primeiro mundo, como a ja mencionada França e a Suiça não sao o exemplo de democracia que pensamos. Nos alpes, grupos conservadores fazem campanha contra a miscigenaçao das raças no pais, simulando tragedia e pessimo futuro para a sociedade.
    Raul Seixas diria que o o homem é livre para circular por todo o planeta, já que a ele pertence, sem passaportes, e independentemente de cor e raça. O mundo deveria ouvir mais o maluco beleza...

    ResponderExcluir
  3. Sabe professor, eu acredito em um Brasil melhor no futuro, em que as pessoas se respeitem e se amem mais.
    Pode parecer utopia, e talvez seja mesmo, mas não posso simplesmente deixar de acreditar.
    Com nossa educação precária e um governo que quer nos emburrecer para poder permanecer no poder, é preciso mesmo ser muito otimista.
    Acreditando, fica mais fácil fazermos a nossa parte.
    Acredito também que o Brasil, mesmo com a herança européia da intolerância, ainda será um exemplo a ser seguido.

    Independente do governo atual, o Brasil possui mecanismos próprios de crescimento e amadurecimento.

    Se nós, a classe pensante do país, acreditarmos e fizermos a nossa parte difundindo idéias de tolerância e compreensão, sem dúvida, deixaremos uma consciência mais digna e igualitária às próximas gerações.

    ResponderExcluir
  4. Olá Prof.
    Realmente...é o que vc comentou...o homem só olha para si próprio. Acho q faltam alguns mundos, rs...pois tudo o homem reclama...mas não fazemos nada para mudar.
    Só o Amor para mudar tudo isto.
    bjs

    ResponderExcluir
  5. Antes de mudar os outros devemos mudar a si mesmo. Você já parou para pensar se é gentil com todos? De que forma tem ajudado o planeta? Se realmente aceita o outro do jeito que ele é? Temos que ser exemplo antes de exigir qualquer atitude do próximo.

    ResponderExcluir
  6. 1- ...já não dá mais para acreditar... se vc "acredita" em algo, isso vira objeto de credo... Portanto, religião... Sempre impelindo o sujeito a empurrar as circunstâncias para a possibilidade de um milagre (não que milagres não existam).
    Está na hora de AGIRMOS, não de acreditarmos. E essa "agência" começa não sendo dirigida para o externo, para os outros, para "o mundo lá fora", mas começa sim DENTRO da cada um...

    2- ...já não dá mais pra "difundir idéias", ideais, preceitos diversos, etc... isso é ideologia, e ideologia é religião... Vivemos na época mais religiosa de todas, e essa religião é o American Way of Life, uma religião para todos, um "deus único" para todos escravizar: o Capital. E isso é INSUSTENTÁVEL....

    3- eu não diria que "aceitar as diferenças é o primeiro passo para um convívio de paz(...)". Não "aceitar as diferenças", mas sim ANULÁ-LAS. Já não dá mais pra ver o outro como diferente, externo, normal/louco, bom/mau, feio/bonito, burro/inteligente... É insustentável classificar e significar o sujeito (seja o eu, seja o outro)... Não somos uma "classe"... muito menos "a classe bem pensante"...
    Se somos a classe neoburguesa (nós aqui confortavelmente centados, digitanto, "olhando para as telinhas"), então somos a classe mais burra e corrupta do planeta...

    em fim... é isso, e se não for, é tudo blablabla....

    ResponderExcluir
  7. Mais uma vez alguém que não seja do perfil que aquele fulano acha adequado ele vai e agride, e o que acontece com o agressor, papai chega e leva para casa, a maior culpa é do nosso sistema judiciário, enquanto não se mudarem as leis esses filhinhos de papais e mamães sem educação, mal criados vão continuar fazendo essas barbares com outras pessoas, apenas ontém um juiz decretou novamente a prisão dos agressores, sendo que um já não foi encontrado, mas papai disse que ele irá se apresentar, acorda Brasil ele tem dinheiro e é muito fácil para essas pessoas esconderem seus filhos em outros lugares.

    ResponderExcluir
  8. Sabe, tem uma musica de rap que diz "Organização faz o Tubarão temer as tilapias", pra mim o que falta no Brasil acima de tudo é a organização, mas já pensaram nisso muito antes de mim, quando escreveram no centro da bandeira que nós só teriamos progresso depois que obtivessemos ORDEM. E como a gente pode ver, esse não é um assunto novo, é presente em toda a historia da humanidade, não vai ser facil de combater, mas é preciso começar em algum momento.

    A gente também tem que prestar mais atenção às possiveis consequencias dos nossos hábitos modernos, essa idéia não é minha, mas acredito que precisamos observar que vivendo com midias e tds tipos de sites de relacionamentos estamos cada vez nos isolando das pessoas que são diferentes de nós e dos que não nos agradam, é preciso pensar no que esse ato (de conforto) acarretará nas próximas gerações, e nos organizar para chegar onde queremos chegar...

    ResponderExcluir
  9. Vivemos em um país onde a homofobia não só é legal como é lei. Hoje, por lei, homens homossexuais são proibidos de doar sangue. Como não existe um "atestado de homossexualidade" a única maneira de por essa lei em prática é fazer uso de preconceitos para o reconhecimento de um homossexual.
    Absurdamente isso é lei. Sinto-me ofendido por ter como pátria um terra que não aceita o meu sangue. Quando menciono "sangue" não me restrinjo ao líquido que corre em nossas veias, mas amplio isso à vida.
    A cada dois dias um homossexual é morto em território nacional, e o Estado, não faz nada para que esta situação mude. O Estado é formado por elementos saídos do povo, que não educado para respeitar as diferenças ou as ignora ou as reprime.
    Não posso deixar de citar as cotas para negros, índios e deficientes físicos para ingresso no sistema superior de ensino. Fazer com que toda a sociedade tenha base para imaginá-los menos capazes não é a atitude que vai mudar o quadro de preconceitos do Brasil.
    Sonho com o mundo de Jonh Lennon, mais especificamente, da música "Imagine", onde homens saberiam como viver em paz. Para atingirmos tal utopia deveríamos mudar drásticamente a cultura preconceituosa que faz-se viva até hoje, e não consigo imaginar outra forma de fazê-lo a não ser elegendo pessoas capazes de gerir um país falho, que anseia por um líder mostrando de que maneira a sociedade atual pode evoluir.

    ResponderExcluir
  10. Che Guevara dizia que o conhecimento nos faz responsáveis... logo, nós, que temos mais acesso ao conhecimento, somos responsáveis para lutar por um país melhor. E a educação é realmente a chave pra tudo.

    ResponderExcluir